Alegria
Cristã
Por Padre Rufus Pereira
Como nós vemos nas escrituras dos
quatro evangelhos, os quatro escritores obedecem a aquilo que é escolhido por
Deus. Porque não é exatamente o mesmo evangelho, mas é o evangelho visto de 4
pontos de vista diferentes. Portanto nós temos: norte, sul, leste e oeste.
Um escritor era discípulo de São
Pedro, portanto nós temos a experiência de São Pedro vindo para o evangelho de
São Marcos.
Um outro evangelho foi escrito pelo
discípulo de São Paulo e vemos então a experiência de São Paulo através do
evangelho de São Lucas.
Mas os outros dois evangelhos foram
escritos pelos próprios evangelistas.
Um deles foi escrito por São João,
o discípulo que Jesus muito amava, que descansou a sua cabeça no peito de Jesus
na última ceia, e que era o mais chegado a Jesus.
E o outro evangelho foi escrito por
São Mateus, o oposto de São João.
Ele era um pecador, era aquilo que
os fariseus chamavam de “aqueles que trabalhavam para os romanos eram pecadores”.
Porque eles lidavam com dinheiro. Eles coletavam impostos para o governo do
império romano. E ainda assim, como um dos evangelhos foi escrito por um homem
desse quilate? Será que ele escreveu um evangelho errado, 28 capítulos?
E o capítulo 9, que nós ouvimos na
leitura de hoje, conta exatamente a conversão de São Mateus. É claro que de uma
maneira bem breve.
8 Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a
Deus por ter dado tal poder aos homens.9.Partindo dali, Jesus viu um homem
chamado Mateus, que estava sentado no posto do pagamento das taxas. Disse-lhe:
Segue-me. O homem levantou-se e o seguiu.10.Como Jesus estivesse à mesa na casa
desse homem, numerosos publicanos e pecadores vieram e sentaram-se com ele e
seus discípulos.11.Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos: "Por
que come vosso mestre com os publicanos e com os pecadores?"12.Jesus,
ouvindo isto, respondeu-lhes: "Não são os que estão bem que precisam de
médico, mas sim os doentes.13.Ide e aprendei o que significam estas palavras:
Eu quero a misericórdia e não o sacrifício (Os 6,6). Eu não vim chamar os justos,
mas os pecadores." (Mt 9:8-13).
A Conversão
de Mateus.
Um dia quando Mateus estava sentado
no balcão para coleta de impostos e Jesus passou por aquele caminho, e só disse
a ele uma palavra, em hebreu é uma palavra. Ele disse: “segue-me”. Por isso que
o nome inicial para cristãos era “seguidores”.
E nós vemos que Mateus deixou o seu
balcão e todos seus afazeres e seguiu Jesus. Você pode até pensar que essa é a
história mais curta de conversão jamais escrita no mundo.
Mas era apenas um resumo daquilo
que foi uma experiência muito longa.
Mateus já tinha ouvido bastante o
que Jesus estava pregando no seu tempo. Ele estava observando Jesus, como ele era
cheio de amor pelos pobres e pelos doentes e, no seu coração, ele já tinha se
tornado um discípulo, mas não tinha coragem de dar o passo final, por duas
razões: ele tinha medo do que os oficiais romanos fariam com ele e também tinha
medo de que Jesus não o aceitasse como um discípulo.
Portanto, só bastava uma única
palavra de Jesus para Mateus dizendo: “OK, Mateus, venha, podes ser meu
discípulo”. Portanto, Mateus já tinha se tornado discípulo de Jesus na sua
mente e no seu coração. Ele só precisava de uma palavra de aprovação e foi isso
que Jesus fez.
Não foi que naquele momento Mateus
se tornou um discípulo, ele já era um discípulo por um longo tempo. Ele apenas
tomou, deu um passo em frente ao público, declarando a sua posição.
E assim, como acontece geralmente
nos evangelhos, Jesus foi tomar uma refeição com Mateus, ou melhor, Mateus deu
uma festa para celebrar a sua conversão.
Ele convidou todos os seus amigos,
convidou Jesus e os seus discípulos, e aí nós podemos imaginar como os fariseus
e os padres, os sacerdotes de então, se sentiram.
Eles não acreditavam que um homem
como Mateus jamais pudesse mudar a sua vida. Eles não podiam acreditar que
Mateus queria ir para o Céu. E, portanto, eles estavam falando para os
discípulos de Jesus: “veja o que o seu líder está fazendo, ele nem sabe que
Mateus é um grande pecador. E, se ele soubesse, imagine ele permitindo estar
junto do inimigo de Deus, do inimigo dos judeus!”.
E aí Jesus deu a boa nova: Mateus
só usou aquele incidente, que já tinha acabado, para trazer a boa nova para
todos nós. E o que é que Jesus disse com esse incidente? “Aqueles que estão
saudáveis não precisam de um médico, são os doentes que precisam de um médico”.
Aqueles que se acham bons e santos não precisam de Deus para mudar as suas vidas.
Mas aqueles que são pecadores e tem uma vida ruim precisam de Deus para mudar
as suas vidas.
E aí Jesus, diferente do Antigo
Testamento, que havia sido dito lá, os judeus apenas acreditavam no Antigo
Testamento. E aí e Jesus disse: “leiam o que o Antigo Testamento diz, o que é
que Deus, Ele próprio, diz no Antigo Testamento?” Lá diz que Deus diz: “eu não
quero o seu sacrifício, eu não quero vossa adoração, o que eu quero é compaixão
e misericórdia”.
E aí Jesus disse a coisa final, a
última coisa: “é isso que aí eu vim fazer”. “É isso que meu pai me mandou aqui para
fazer aqui. Eu não vim para os justos e os bons, eu vim para os doentes e
pecadores”. “Vim para chamar os pecadores para o arrependimento”.
O Âmago do
Evangelho.
Queridos irmãos e irmãs, este é o
âmago do evangelho:
Jesus veio, acima de tudo, para nos
dizer que qualquer que seja a nossa vida de pecado, Deus nos ama tanto que ele
está ávido por nos perdoar. E que nós estejamos ávidos para pedir para ele que
nos perdoe.
Havia um livro que era o meu livro
favorito quando eu estava estudando no seminário. Era chamado “De Santos para os
Pecadores”. [Saints for Sinners, por Alban
Goodier (1869-1939)]
Foi escrito pelo ex-arcebispo de
Bombaim, um inglês jesuíta. E esse livro era uma lista de grandes pecadores que
se tornaram grandes santos.
Eu vou repetir: um livro a respeito
de grandes pecadores que, você tem que compreender que eles tinham que mudar a
vida, para se tornarem grandes santos.
Isso é uma coisa impensável! Mas, é
isso que Jesus veio para fazer. E é isso que a Igreja está fazendo.
Pecadora:
Maria Madalena.
À medida que eu li aquele livro,
que começou falando sobre Maria Madalena, ela era a maior pecadora no tempo de
Jesus, Madalena era um nome para uma mulher vadia, que ficava de cidade em
cidade na Galiléia e vivia com os soldados romanos. Ou seja, ela era uma mulher
de soldados militares.
E quando eles viram aquela mulher,
uma pecadora, seguindo Jesus - ela era uma prostituta muito conhecida, porque
era ela era chamado de “Maria de Madalena”. Era a mesma coisa que dizer “Maria,
a prostituta muito conhecida” - vocês podem imaginar o evangelho nos falando a
respeito dela?
E ainda, o evangelho nos fala a
respeito de uma história de conversão, que quando cai em lágrimas e secou os
pés de Jesus com seus cabelos longos e beijou os pés de Jesus.
E nós sabemos como os seguidores
criticavam Jesus.
E o que disse Jesus? “Ela teve
muitos pecados perdoados porque ela amou muito”.
Jesus não disse “porque ela perdoou
ela amou muito” mas o que Jesus disse foi “porque ela me amou muito é que ela
foi perdoada.”
Essa é a maneira pela qual Jesus
nos diz que o que Jesus quer de nós não é nem tanto o arrependimento, mas muito
mais o amor.
E aí Jesus nos dá uma frase:
“Aqueles que amam muito a Deus recebem muito perdão”.
E nós sabemos que Jesus escolheu-a
para ser a primeira pessoa a anunciar a boa nova da ressurreição. Que outro
autor poderia ter coragem de contar uma história dessas?
Pecador:
São Paulo.
A próxima história vem de um livro
da carta de São Paulo. Ali nós lemos como Paulo introduz ele mesmo como sendo
um grande pecador.
Ele disse: “eu sou o maior pecador
que jamais viveu na face da terra. Porém, Jesus mudou a minha vida e aí me
tornei o maior dos apóstolos”.
E nós temos todos esses vinte
séculos, muitos santos durante todo esse período.
Pecador:
São Francisco Xavier.
Para dar somente mais um último
exemplo, a história de São Francisco Xavier.
Vocês conhecem a história da
conversão dele? Ele era um inteligente aluno na universidade de Paris e o objetivo
dele era se tornar um professor universitário famoso.
Santo Ignácio de Loyola, que fundou
a ordem dos jesuítas olhou para ele, percebeu que deveria haver alguém na
França que ele pudesse usar para o seu trabalho. Ele olhou para Francisco como
um grande peixe que ele pudesse pescar para Jesus.
E assim, portanto, da mesma forma,
Jesus, em Mateus, Jesus estava sempre rezando e orando com Maria.
Da mesma maneira o Santo Ignácio de
Loyola estava sempre conversando, empregando e ensinando Francisco Xavier. E
ele falava para Francisco tantas vezes, pegando da bíblia: “o que vale para um
homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua própria alma?”
E esses versículos mudaram a vida
de são Francisco.
E quando ele foi para as missões ao
redor do mundo, ele escolheu Francisco para ser um dos primeiros missionários,
e Francisco veio pelo sul da África direto para a Índia.
E vocês sabem onde ele foi parar?
Ele veio primeiro para onde eu moro, numa das melhores cidades da Índia, e eu
sou um descendente daqueles que foram convertidos pelas missões da colonização
portuguesa e de São Francisco de Xavier. (aplausos.)
Se não fosse por São Francisco
Xavier, eu não estaria aqui na Canção Nova. (aplausos.)
E a igreja na qual eu fui batizado
foi construída pelos missionários portugueses, inspirado em São Francisco Xavier
há mais de 400 anos atrás. E todos esses frutos, na região de Bombaim até Goa,
são frutos de São Francisco Xavier e de outros missionários de Portugal.
E, portanto, como hoje nós
celebramos a festa de São Mateus, Deus está nos dizendo: “não há limites para o
que Ele pode fazer. O que é impossível para o homem é possível para Deus”.
Deus pode usar uma pessoa como
Maria Madalena, como Paulo, como Francisco Xavier, para mudar o mundo.
Um dos Maiores
Livros da Bíblia.
Mas, com propósito de fazer isso,
nós precisamos prestar atenção na primeira leitura, a carta de São Paulo aos
Efésios, um dos maiores livros da bíblia.
Nosso
Objetivo: Ser um Outro Jesus.
Um livro que nos diz o que a Igreja
deve ser, o que é Igreja deve fazer, especialmente o capítulo 4. Diz para nós
que o nosso objetivo é que sejamos um outro Jesus.
Você não pode mudar o mundo ao seu
redor através apenas de planos, através de fazer coisas, através da organização
até mesmo de grandes eventos. A única maneira de você mudar o mundo é através
de “você se tornar um outro Jesus”. (aplausos.)
E, portanto, essa passagem começa
nos dizendo o que significa sermos um outro Jesus:
Somos Uma
Única Família.
Número um, nós precisamos sempre
lembrar que nós somos uma única família porque nós temos um único pai, que é
Deus. Porque nós temos Deus, que é o nosso pai, nós somos, portanto, uma grande
família.
Quando vimos para a igreja, como
nós estamos vendo hoje, nós deixamos a nossa pequena família em casa para vir para
cá e formar uma grande família.
Portanto, a gente não pode pensar:
“olha, essa pessoa do lado, eu não a conheço”. Não devemos olhar para a pessoa
do lado e pensar: “quem é essa pessoa?”
O Concílio do Vaticano nos diz que
nós temos um único Deus e, se Deus é nosso pai, e portanto nós somos uma única
família e, portanto, nós somos irmãos e irmãs. (aplausos.)
Portanto agora olhe para a pessoa
da sua direita e da sua esquerda e diga: “você é meu irmão, você é minha irmã”,
e diga o seu nome e pergunte o nome dessa pessoa. (há uma movimentação na
platéia e o padre se apresenta para o tradutor e o cumprimenta.)
Somos Um
Único Corpo.
E em segundo lugar, o que diz São
Paulo? Nós fomos batizados em uma única fé, nós somos batizados em Jesus Cristo. E ,
portanto, nós somos um único corpo.
Olhe para o seu próprio corpo. Há
algum problema entre os seus olhos e os seus ouvidos? Todas as partes do seu
corpo são você: a mão não vai se virar para o olho e dizer “quem é você?”. O
seu olho não vai virar para você e falar “quem é você?”. Nada é tão único como
o corpo humano.
E você sabe o que São Paulo disse?
“Vocês são um único corpo, vocês não são 10 mil corpos, vocês são um só corpo”.
(aplausos.) Digam uns para os outros “nós somos um único corpo de Cristo”. (a
platéia corresponde.)
Somos Um
Único Espírito: Santo.
Depois o que disse São Paulo? “Nós
fomos batizados apenas por um único espírito, e esse espírito é o espírito de
Jesus e esse espírito é um dom de Deus.”
E por que nós temos um único
espírito?
Nós mostramos uns para os outros a
mesma forma de falar, de andar, de comportar-se, então todo mundo se comporta
da mesma forma. Quando você fala, todos vocês falam das palavras de Deus.
Quando vocês olham uns para os
outros, vocês devem se olhar uns para os outros com o mesmo amor. É isso que a
bíblia diz: “quando nós temos o Espírito Santo, os sinais de que nós temos o
Espírito Santo é que nós teremos a mesma paz dentro de nós mesmos, o mesmo amor
uns pelos outros e a mesma alegria exterior”.
Olhem uns para os outros e expressem
essa alegria. (A platéia reage conforme as palavras do padre Rufus tendo ao
fundo uma música suave.)
O Motorista
do Padre Jonas.
Quando eu vim para a Canção Nova a
semana passada, o motorista do padre Jonas, sempre que ele me encontrava, ele
não falava como os americanos falam: “bom-dia” ou “boa noite”. Ele sempre
falava “alegria”.
Falem uns para os outros, alegria,
cumprimentem-se uns aos outros com essa saudação: “alegria”. (aplausos.)
Eu ainda me lembro do cardeal
Summens, que ajudou a promover a Renovação Carismática, e falou num Conselho
Vaticano a respeito da Renovação Carismática.
Aí eu o encontrei e ele sempre me
perguntava: “quando você encontrou Jesus?” Como se ele quisesse me dizer:
“quando foi que você encontrou Jesus de uma maneira tão pessoal?”
E ele sempre nos dizia a mesma
coisa, vez após vez: “que tinha certeza de que os cristãos do mundo inteiro
tinham a alegria nos seus rostos”, era isso que ele falava.
É essa a diferença entre religião
cristã e o cristão com religião de alegria.
A alegria cristã é um sinal do
Espírito Santo.
Nunca
Dividir Uns dos Outros.
E, portanto, São Paulo dizia que
nada deveria dividir nós, uns dos
outros.
Você pode ter diferentes funções:
alguns são padres, outro são irmãs, outros são consagrados, outros são leigos.
Mas são apenas diferenças em funções.
Você pode ter diferentes dons,
alguns têm o dom de pregação, outros têm o dom da cura, outros podem ter
pequenos dons.
Quando eu fui para um grupo de
oração lá nos Estados Unidos, eu fiquei na casa de um homem muito rico. E lá
nós tivemos, então, um grupo de oração naquela noite e ele disse:
- Eu tenho que ir mais cedo para
esse grupo de oração.
E eu disse:
- Por quê?
- Porque eu estou na incumbência do
“ministério de cadeiras”. O meu trabalho é colocar as cadeiras em ordem.
Ele era um milionário e tinha a
incumbência no grupo de oração de organizar cadeiras. Ele era do “ministério de
colocar cadeiras em ordem”. Não deixe nem mesmo os dons de vocês dividir vocês.
Conclusão.
E, finalmente, São Paulo disse uma
coisa muito bonita: “o que Deus quer de você? Que você se torne então perfeito,
que você cresça tanto em
Jesus Cristo , que você se torne uma pessoa perfeita, chegando
ao mesmo nível de Jesus Cristo”.
Portanto São Paulo disse isso:
“tudo o mais não tem a menor importância a não ser uma coisa, que todo mundo
possa reconhecer em
você Jesus Cristo ”.
De tal forma que cada um de nós
possa dizer, como São Paulo, e como Maria Madalena poderia dizer, assim como
Mateus e também São Paulo poderia dizer: “Eu vivo, eu estou vivo, eu estou
vivendo e eu estou vivo. Mas não sou eu quem vive, não sou eu que estou
vivo, mas é Jesus que vive em
mim. Amém. (aplausos.)
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