Sua Vida e Sua Morte

Por Carlos Umdoistres

Padre Rufus Pereira faleceu na madrugada de 02 de maio de 2012. A causa da morte foi insuficiência cardíaca, tendo ocorrido o passamento enquanto ele dormia. O funeral do Padre Rufus ocorreu em 19 de maio (sábado) em Bandra Ocidental, na Índia.

A primeira missa fúnebre ocorreu na Inglaterra, às 16h em Londres, na Igreja Católica Saint James, no dia 15 de maio. Participaram de sua missa cerca de 100 pessoas, inclusive sua amiga e secretária pessoal Erika Gibello e familiares.

O caixão do Padre Rufus foi transladado para a Índia e seu corpo permaneceu em exposição, para homenagens finais, conforme a tradição de sua terra.. 

O funeral ocorreu no dia 19 de maio, sábado, às 16h, horário local. A missa foi celebrada pelo Arcebispo Cardeal Oswald Gracias, que foi quem o nomeou para ser um dos líderes do movimento da Renovação Carismática na Índia.

Nos seus quase 79 anos de vida, a maior parte dedicada e consagrada a Jesus, pregou o amor de Deus e a boa nova a todas as nações, cuidou de corações e almas feridas, conduzindo almas de volta ao rebanho. 

Sua citação preferida era João 3:16, versículo que estudou durante três anos para o seu doutorado "O Amor Segundo o Evangelho de João - Deus é Amor".

Com uma ponta de satisfação pessoal, ele faz referência à primeira encíclica do Santo Padre, Bento XVI, cujo título foi: "Deus é Amor"


Infância:
Em seu convite ao Jubileu de Ouro (50 anos) de sua ordenação, o padre nos revela um pouco de sua vida. Diz que era um menino tímido, calado, de baixa estatura, que entrou no seminário de calças curtas, muito jovem. 

Não tinha dificuldade em cumprir o voto de silêncio, sua dificuldade de falar abertamente era tanta que os padres e mentores se surpreendiam quando ele dizia alguma coisa.

Sempre foi quieto, ele mesmo se definia "calado", "tímido" e "medroso". Tinha muito medo do demônio quando era pequeno e chamava frequentemente sua mãe: "Mamãe! Mamãe! Tem um demônio debaixo da minha cama!". E a sua mãe vinha e provava que o demônio não estava lá, olhava debaixo da cama.


Mãe Cristã:
Não sabemos o nome da mãe dele. Mas o padre se recorda com muito carinho dela. Especialmente pela herança verdadeiramente cristã recebida de sua mãe: a fé católica.

O padre conta que rezava o terço em família todos os dias na frente do oratório da família. Sua mãe estava sempre presente, exigia que abençoasse tudo o que fosse comer ou beber, tomava as lições de casa direitinho e todo domingo ia à igreja. 

Era muito zelosa com as crianças e não as deixava longe dela. Sempre estava presente, não confiando as crianças nem mesmo a seus parentes. E quando deixava, estava sempre por perto, e era por pouco tempo.

Não era "super-religiosa", mas era uma fiel e amorosa mãe. Diz que sente sua boca se encher de água quando se lembra da comida dela. 

Ele a tem muito em consideração, acreditando que são suas preces aqui na terra e no Céu que fizeram de seu ministério e sua vida um sucesso no cumprimento do dever cristão de andar, curar, fazer o bem e pregar o evangelho ao mundo.

Um dos grandes desgostos por que passou o Padre foi quando a sua mãe morreu e ele não pôde estar ao lado dela. Foi um depoimento comovente porque o Padre havia se revoltado com Deus quando sua mãe não pôde estar com ele em sua morte. 

Reproduzimos a seguir esse trecho da palestra, de aceitação da vontade de Deus, que me emocionou muito no momento da transcrição e me emociona ainda muito mais quando sei que o Padre já está na presença do Senhor, no Reino de Deus. 
"E eu me lembrei que toda vez que chegava em casa para uma visita muito breve, as pessoas me diziam: “a sua mãe está aguardando você na entrada, ela está aguardando você”. Mas eu era muito conhecido na paróquia, então quando eu chegava em casa eu via que ela estava esperando por mim o dia inteiro. E uma vez que eu encontrava, depois de cinco minutos ela já dizia “pode voltar para a paróquia, você tem muito trabalho”.
E a minha mãe começou a dizer muitas coisas sobre a vida dela. E ela me disse “Rufus, tudo o que eu faço é rezar. Quando eu estou aqui em casa estou rezando rosário, quando eu vou para cozinha outro terço, no banheiro outro terço, o dia inteiro estou só rezando”.
Então quando eu olhei para o corpo da minha mãe, eu então percebi a razão pela qual o meu ministério é tão cheio de sucesso.
Não é por causa de nenhum mérito meu, mas atrás da minha pregação, da minha oração de cura e libertação, existe a oração de uma adorável mãe. (aplausos)
E mesmo hoje a minha mãe está para mim muito viva, algumas vezes quando eu encontrei casos muito difíceis aqui embaixo eu disse “mamãe, é melhor você fazer alguma coisa aí”. (risos da platéia)
Portanto, atrás de todas as orações e de toda a cura que Jesus fez, estava lá Maria, a mulher da cruz, em pé diante da cruz. 
Então o Senhor parecia querer dizer ainda mais. O Senhor me dizia “Rufus por que você está triste de não estar presente na morte sua mãe? Você não precisava estar lá porque eu estava lá e Maria estava lá e José estava lá. (aplausos)
Então eu me lembrei porque todos os anos que eu vim em casa, no final de toda a oração do terço que fazíamos, a minha mãe fazia as três orações, jaculatórias favoritas dela:
“Jesus, Maria e José renove a minha alma e o meu coração; Jesus, Maria e José assista me na minha última agonia; Jesus, Maria e José que eu possa dar o meu último suspiro na sua santa presença”
E essa oração foi respondida." (aplausos) 
Fonte: A Importância da Eucaristia na Cura Interior  (disponível neste site)
Desgostos Pessoais:
Em Roma, na sua ordenação em 26 de dezembro de 1956, não apareceu ninguém da família para a celebração de sua missa. Foi um desgosto pessoal. 

Outro desgosto foi quando lhe recusaram o bispado, onde ele voltou para a Índia bastante desapontado. 

Seu pai muitas vezes o feriu (como quando não o elogiou quando era criança e tirou nota 10 em todas as matérias exceto um 9 em história) e ele se curou dessas feridas quando, em seu velório, na presença de muitas pessoas, ele perdoou o pai e também lhe pediu perdão, o que foi aprovado por toda a audiência, embora isso fosse pouco usual dizer numa cerimônia fúnebre. Ele chegou a dizer que os dois se agrediam gritando um com o outro, mesmo ele sendo padre.


As Três Chamadas:
O Pe. Rufus considera que houve três chamadas para ele dedicar-se à Renovação. 

A primeira chamada ocorreu quando entrou no seminário (embora ele fosse estudioso e a família sonhasse que ele estudasse em Oxford)

A segunda chamada ocorreu quando lhe recusaram o cargo de bispo (ele ficou desapontado).

A terceira chamada ocorreu quando ele foi no domingo de Pentecostes de 1972 à Primeira Conferência Nacional da Renovação Carismática Indiana.

  • Após a terceira chamada, Pe. Rufus se preparou espiritualmente por 2 anos, fortalecendo-se na palavra e na oração e então começou a fazer orações em público.
  • Preparou-se por mais um ano para começar a fazer pregações.
  • Preparou-se por mais um ano para começar a orar por cura.
  • E depois de 2 anos começou seu ministério duplo de cura e libertação.

Exorcista por Dom:
Ele descobriu seu dom carismático do exorcismo acidentalmente, quando rezava por um fiel. Então um demônio se manifestou e disse que ele falava demais e que viria à noite pegá-lo. Ele se recordou do Padre Pio e ficou aguardando, mas o demônio nunca veio.

Esse mesmo demônio ele encontrou várias vezes, até mesmo no Brasil!


Coisas de Deus:
Refletindo um pouco, só coisas de Deus mesmo.

Um padre indiano, nascido numa família católica (a região foi colonizada por Portugal: o Pe. Rufus entende um pouco português, seus avós só falavam português), na pequena Bandra Ocidental, um menino baixinho, calado, tímido, um pouco nervoso e medroso.

Um padre que não conseguiu ser bispo.

Um padre que recebeu o fogo do Espírito Santo em 1972 há 40 anos.

Um padre que deve sua fé à obra de São Francisco Xavier, que partiu há mais de 400 anos de Portugal.

Um padre que vem pregar Catolicismo originado da Índia que 2% da população é católica.

Um padre que vem pregar na "Terra de Santa Cruz", consagrada a Jesus em 22 abril de 1500.

Um padre que se agigantou, venceu sua timidez e se tornou um verdadeiro gigante.

Um gigante na fé, no amor e na compaixão!