PADRE RUFUS PEREIRA 19/03/2012 - 01h30
"O demônio não gosta de mim"
Ele conta da preocupação com o Brasil - um
país cheio de espíritos atormentando as pessoas, segundo ele. Como livrar-se do
mal?
O sacerdote indiano tem um propósito:
trabalha para ajudar as pessoas. Quer vê-las livres do mal, da possessão do
demônio, das doenças espirituais. É para isso que padre Rufus viaja o mundo
todo. Já são mais de 90 países visitados intercedendo pela libertação. Ele não
quer deixar esquecer que o mal tem poder. Assim como o bem. E se soubermos da
existência do demônio, fica mais fácil nos protegermos.
Padre Rufus, à primeira vista, aparenta
sisudez. Mas a conversa com o senhor indiano, respeitado mundo afora, atesta
outro perfil, mais bem-humorado. Ele fala de sorrisos, de alegria, de cura.
Porque o cristianismo é a religião da alegria, porque Jesus quer nos ver
felizes, porque a Bíblia orienta que estejamos bem, justifica. E o padre é
feliz. “Por isso que o demônio não gosta de mim”, justifica.
Em quase duas horas de conversa, na
presidência do O POVO, o sacerdote contou da missão que acolhe, narrou casos
chocantes, mostrou vídeos de gente possessa, orgulhou-se da graça da
libertação. Pediu, no entanto, que não descrevêssemos as histórias nem
identificássemos os personagens. É melhor preservar as pessoas. É onde também o
padre demonstra a compaixão.
Quando reza sobre alguém tomado pelo
demônio, faz em silêncio. Tem sempre água benta por perto, um sinal do Espírito
Santo. E olha nos olhos. “Era assim que Jesus fazia”, explica. E os espíritos
vão saindo, mostra o vídeo. “Quando eu era criança, eu tinha medo. Agora, os
demônios têm medo de mim.” O padre sabe da força que tem, porque é movido pela
fé, em uma vida pautada por Deus e pelo demônio.
O POVO - O senhor viaja muito. Vê alguma
diferença da fé brasileira para a fé de outros países?
Padre Rufus - Vejo duas coisas. Em todas
as partes, há muitos sofrimentos que acometem as pessoas em todos os lugares do
mundo. Por outro lado, quando eu estou pregando, fico feliz quando vejo que a
fé das pessoas cresce.
OP - O exorcismo é um dom natural? O
senhor recebeu esse dom?
Rufus - Número um: é um dom supernatural,
não um dom natural, e é dado por Deus. Por que Deus dá esse dom para algumas
pessoas e não dá para outras? Eu não sei. Sempre fui um homem muito quieto,
tinha medo de tudo, e Deus me deu este dom. Temos que perguntar a Ele por que
eu.
OP - Alguém que não é padre pode aprender
o exorcismo?
Rufus - Não. O exorcismo não é aprendido;
é um dom dado por Deus. Só o padre pode fazer exorcismo. Com o contato com as
pessoas e com o trabalho, é que se vai desenvolvendo.
OP - Quando o senhor percebeu que tinha
este dom?
Rufus - Eu percebi que tinha este dom
quando eu rezei em uma pessoa por engano. E o demônio começou a falar. E falou:
“Você está falando demais. Eu vou vir de noite e vou cortar sua língua”. E toda
noite, eu fiquei esperando ele vir e ele não veio.
OP - Como o senhor sabia que era o
demônio?
Rufus - Ele estava com muita raiva de mim.
Ninguém diria que ia cortar minha língua se não fosse o demônio.
OP - Mas o que o senhor sentiu na hora?
Hoje o senhor fala isso com um certo bom humor.
Rufus - Eu senti que o demônio nunca ri,
ele nunca está sorrindo. Ele é muito sério. E eu sou feliz. E o demônio não
gosta de mim.
OP - São Francisco resgatou o sorriso na
Igreja. E o senhor agora diz que é feliz e o demônio não é. Qual é a
importância do sorriso na Igreja?
Rufus - O cristianismo é a religião da
alegria. Na Bíblia, há muito claramente: “Alegrai-vos no Espírito Santo”. Jesus
veio para enxugar nossas lágrimas. Ele quer que sejamos pessoas de alegria, e o
demônio não gosta disso.
OP - E como a Igreja Católica entende esse
dom do exorcismo?
Rufus - Eu comecei na Associação de
Exorcistas em 1993. Em 1994, houve o primeiro encontro em Roma, com mais ou
menos 100 exorcistas. E eles me elegeram para ser o presidente. “Mas eu estou
muito longe, em Bombaim (na Índia). Escolham alguém daqui”. E eles escolheram o
padre Gabrielle Amorth, o exorcista de Roma. E criaram o posto de
vice-presidente para mim. Vai haver a próxima eleição. Falaram comigo e
decidiram que, na próxima eleição, o padre Rufus será o vice-presidente.
Teremos mais um encontro na segunda semana de julho. E eu ouvi falar que eles
querem me apontar como o exorcista oficial de Roma. Mas não contem isso para
ninguém.
OP - O senhor tem permissão do Vaticano
para praticar o exorcismo. Como é esse processo?
Rufus - Ouviram falar em mim. O dom Gabrielle
Amorth me chamou, e eu comecei. Fui apontado oficialmente pela Igreja.
OP - Falar do demônio é sempre polêmico.
Os católicos não gostam nem de pronunciar a palavra demônio.
Rufus - É por isso que muitas pessoas,
muitos padres dizem que o demônio não existe.
OP - Mas admitir que o demônio não existe
não é uma contradição? Porque, se eu acredito no bem, eu devo acreditar no mal.
Rufus - Você é uma boa teóloga.
OP - Como diferenciar uma doença
espiritual de uma doença física?
Rufus - As doenças espirituais não têm
necessariamente coisas externas que afetam as pessoas. No caso de libertação,
pode-se ver alguma coisa externa.
(Uma das freiras que o acompanham explica
que o exorcismo é considerado pela Igreja como um rito oficial. É preciso ter a
permissão do Vaticano. O padre Rufus viaja pra fazer oração de libertação,
segundo ela.)
Rufus - Eu nunca menciono a palavra
“exorcismo”, porque tem que lidar com um problema legal. Eu sempre rezo por
libertação. Mesmo na minha nomeação, o bispo disse: “Eu o nomeio como
exorcista, mas não mencione isso publicamente. Saiba apenas que você tem toda a
autoridade para fazer isso”. Tudo o que eu faço em todos os eventos, tanto na
Canção Nova como aqui, em primeiro lugar é louvor, oração. Porque o louvor e a
oração devem nos levar a colocar o foco em Deus. Não estamos apenas cantando
música, mas estamos louvando a Deus. Porque, quando isso acontece, o foco é em
Deus. Não no demônio nem em mim. É o poder do louvor. Depois que tem esse
louvor, a próxima coisa que eu faço é ministrar uma palestra, uma palestra
longa. Uma hora, uma hora e meia. Por isso que o demônio disse daquela vez:
“Você fala demais”. Por isso que ele disse: “Eu vou cortar sua língua”.
OP - E o que o senhor fala?
Rufus - O que eu falo é somente sobre Deus
e claramente falo duas coisas da Bíblia. Queria que todos os padres soubessem
esses dois versículos. Um é sobre o que São João disse; que todo o mundo está
sob o poder do maligno. E especialmente o Brasil. Se vocês vissem os casos que
chegam até mim, vocês saberiam. Em segundo lugar, o que Jesus disse: “Mas não
tenham medo. Eu venci Satanás”. São esses dois versículos que me motivam a
fazer o meu trabalho.
OP - Não é um paradoxo? O Brasil é um dos
países mais católicos do mundo.
Rufus - O que acontece no Brasil é o mesmo
que acontece na Itália. A Conferência dos Bispos da Itália publicou uma
declaração em que dizia que os italianos são, por um lado, religiosos demais.
Erradamente religiosos. Por outro lado, eles procuram todas essas teorias
questionáveis buscando ajuda, pensando que isso é uma resposta de Deus. Mas
isso é uma resposta do inimigo, que está afligindo. E isso é o que acontece no
Brasil. De manhã, eles vão para a igreja, para Deus. E à noite, vão para a casa
do inimigo. Eles tentam pegar o melhor dos dois mundos. E Jesus diz: “Vocês não
podem servir a dois senhores”. E por isso que eu diria que o lugar que mais
precisa de ajuda neste ministério é o Brasil. E vocês podem ver esses casos
acontecendo.
OP - E como a gente pode ajudar esses
casos? Como eu tenho o discernimento, como a Igreja Católica chama?
Rufus - Por que vocês não procuram as
pessoas que podem ajudar? Eu vou dar dois casos. Na primeira vez que eu vim ao
Brasil, fui para Sorocaba, talvez em 1999 ou antes. E eu fui chamado para
pregar para os líderes da Renovação Carismática no Brasil. Era um encontro em
Aparecida. Havia milhares de líderes lá e eu fui chamado para falar de
libertação. Fiz as duas primeiras palestras e fui chamado pelo Reinaldo Reis,
que era o coordenador da Renovação Carismática no Brasil. E ele disse: “Padre,
o senhor tem que mudar o seu assunto, porque as pessoas estão ficando com medo.
Todos eles são líderes; mas todos já lidaram um pouco com o ocultismo. Então, é
melhor o senhor falar sobre cura.” Então, falei sobre cura. Se o cego guia
outro cego, eles não vão cair no abismo?
OP - O que seria a casa do inimigo? Como é
que eu sei que é a casa do inimigo e como isso nos fragiliza para o domínio do
mal?
Rufus - Não é a casa do inimigo. Há coisas
que abrem as pessoas ao maligno.
OP - O senhor pode dar alguns exemplos
disso?
Rufus - Você já ouviu falar no reiki? E
muitas outras coisas que eu não gostaria de falar publicamente. Você sabe que
aqui no Brasil há muita macumba, umbanda... Há outros espíritos, mas as pessoas
pensam (enfatiza): “Ah, eles não são tão maus assim, então posso ir à
macumba...”.
OP - Algumas pessoas não acreditam no
poder da macumba.
Rufus - Então, há esperança para elas.
OP - Qual foi o caso mais marcante para o
senhor?
Rufus - São muitos. Entre as palestras, eu
desço e rezo pelos casos mais difíceis. Precisamos mostrar por que as pessoas
sofrem. O sofrimento emocional é causado por esposa, filhos, parentes, ciúme ou
inveja das outras pessoas que colocam feitiço nas pessoas. Há feridas
profundas, emocionais. E há muita inveja, ciúme das pessoas que estão próximas
da gente. Pessoas concebidas e entregues a Satanás é uma coisa muito comum no
Brasil. Não é incomum no Brasil. Elas não contam isso para as pessoas, mas
contam para mim, porque têm esperança de que algo pode mudar.
OP - Livrar-se disso é um processo de cura
espiritual?
Rufus - Não é só uma cura espiritual. É
libertação mesmo do Satanás. Não é coisa pequena.
OP - O senhor acredita que isso é um
milagre?
Rufus - Não existe milagre maior do que o
Satanás deixar uma pessoa. E isso é muito comum no Brasil.
OP - As orações de cura espiritual têm
trazido mais adeptos para a Igreja Católica?
Rufus - Isso é secundário trazer pessoas
para a Igreja Católica. O principal é que as pessoas estão sofrendo e eu quero
ajudá-las. Mesmo que sejam hindus ou muçulmanas.
OP - Como é a formação dos padres
brasileiros para ajudar as pessoas?
Rufus - Meu trabalho principal é pregar
para padres e bispos. Por exemplo, em Uganda, 35 bispos me convidaram para
pregar um retiro e vieram com o núncio papal. Você deve enfatizar em todo
retiro a importância da libertação. No ano passado, preguei um retiro para
vários padres sobre isso no Brasil. É o meu principal trabalho hoje. Vou
começar um curso desses em Boston e em Seattle, nos Estados Unidos.
OP - O ciúme e a inveja dentro da família
podem prejudicar outras pessoas. Como os nossos sentimentos contribuem para as
nossas dores? O arrependimento e o perdão contribuem para a cura?
Rufus - Posso contar milhares de
histórias. Sempre faço duas perguntas. Porque não tenho tempo para perguntar
três. Mas, se eu disser, vocês vão saber e vão ficar mais famosos que eu
(risos). Primeira: quando esse problema começou? Eu preciso saber o ano exato,
a hora exata, o dia exato em que tudo começou. Segunda: o que pode ter feito
isso começar? Enquanto a pessoa responde, eu fico sempre rezando ao Espírito
Santo. Em silêncio. Dou água benta, que é o símbolo do Espírito Santo. Deus
escolhe também o tempo em que essas coisas acontecem. Tenho dezenas de milhares
de histórias para contar. Mas a melhor hora para rezar pelas pessoas é às 3
horas da tarde. Deus pode libertar as pessoas a qualquer hora, mas as 3 horas
da tarde é a hora da misericórdia.
OP - As pessoas precisam passar por esse
processo para se libertarem?
Rufus - Por isso que faço esses encontros
de dois, três, quatro dias. Muito devagar, muito sistematicamente. No máximo,
dois minutos para rezar. Não rezo muito tempo. O mais importante é escutar a
palavra de Deus para saber qual é o problema. Especialmente, a causa do
problema. Ajudar as pessoas a remover o bloqueio da cura, por meio do
arrependimento, e renunciar práticas ocultas. Só, então, eu rezo. Rezar neste
caso é o menos importante.
OP - A pessoa precisa querer?
Rufus - Todas as pessoas que vêm querem.
OP - Como eu posso rezar por mim?
Rufus - Venha aos meus encontros. Escute o
que eu falo muito calmamente, eu repito, eu repito. Há os livrinhos que eu
escrevo, também faço oração se preciso por telefone, e-mail.
OP - Como as pessoas têm acesso ao senhor?
Rufus - Eu não dou meu número de telefone.
Porque, senão, eu nem durmo. Agora há pouco ligou uma pessoa de Angola. Mas o
e-mail é mais barato. Eu rezo por cada caso que recebo e as coisas acontecem.
OP - O senhor enfrenta resistência dentro
da igreja com esse trabalho?
Rufus - Não há uma resistência, mas não se
preocupam. Em fevereiro, eu estava em uma igreja pregando, em Bombaim,
celebrando a missa ao lado do pároco. Depois daquela missa, eu ia falar um
pouquinho sobre cura e libertação e rezar pelas pessoas. Ele fez uma homilia de
10 minutos e disse que o demônio não existia. Dez minutos ele falou sobre isso.
Eu acho que a igreja está em falta. Por isso que as pessoas estão procurando
qualquer outra pessoa.
OP - O senhor acredita que o seu trabalho
com curas espirituais é mais eficaz do que a medicina e a psicologia?
Rufus - A medicina e a psicologia não
ajudam nas curas espirituais, mas não diga isso aos médicos. Algumas pessoas
vão para os médicos e psicólogos e nada acontece.
OP - O demônio só age quando a gente
acredita? Ou age independente de a gente acreditar?
Rufus - Na realidade, ele age somente
quando você não acredita. Porque, quando você acredita que ele pode agir, ele
fica mais cauteloso. Ele não quer que a gente acredite que ele existe.
OP - Se eu acredito que ele existe, eu
posso me proteger dele.
Rufus - Sim. Por isso que ele está sempre
com raiva.
OP - O senhor fala muito no Espírito
Santo. Como eu posso invocar o Espírito Santo?
Rufus - Simples. “Venha, Espírito Santo.
Venha, Espírito Santo.”
OP - O senhor está preparando um sucessor?
Rufus - É o meu trabalho. Em cada país,
tenho formado padres. No Brasil, já há alguns formados por mim.
OP - Mas as pessoas acreditam e confiam é
no senhor.
Rufus - Mas tudo o que eu falo está na
Bíblia.