Maria, a Mulher da Palavra
Por
Padre Rufus Pereira
23/09/2000
Início:
O Senhor
esteja convosco.
Ele está
no meio de nós.
Proclamação
do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Glória a
vós, Senhor.
Foi
quando uma grande multidão se reuniu e veio a ele de todas as cidades que ele
disse em parábola: "O semeador saiu para semear a sua semente. Enquanto
semeava parte caiu à beira do caminho, foi calcada aos pés, e os pássaros do
céu comeram tudo. Outra parte caiu sobre a pedra, brotou mas secou por falta de
umidade. Outra parte caiu no meio dos espinhos, crescendo juntos os espinhos as
sufocaram. Outra parte ainda caiu na boa terra, brotou que produziu frutos ao
cêntuplo." e dizendo isso Jesus exclamou: "Quem tiver ouvidos para
ouvir ouça!" Os seus discípulos perguntaram o que significava essa
parábola e ele disse: "A vós é dado conhecer os mistérios do Reino de
Deus, mas para os outros é em parábolas para que podem servir e ouçam sem
compreender. Eis o que significa essa parábola: a semente é a palavra de Deus.
Os que estão à beira do caminho são os que ouvem, depois vem o diabo, retira a
palavra do coração deles a fim de que não cheguem à fé e não sejam salvos. Os
que estão sobre a pedra são os que acolhem a palavra com alegria quando a
ouvem, mas ele não tem raízes, por um momento creem mas, no momento da
tentação, desistem. Aquilo que caiu sobre os espinhos são os que ouvem e, por
causa das preocupações, das riquezas e dos prazeres da vida são asfixiados
durante o caminho e não chegam à maturidade. Aquilo que está na boa terra são
os que ouvem a palavra num coração leal e vão e retém e produzem frutos à força
da perseverança."
Palavra
da salvação.
Glória a
vós, Senhor.
(aplausos)
Padre
Rufus:
Meus queridos
irmãos e irmãs no Senhor Jesus, sendo hoje um sábado, eu senti a inspiração do
Espírito Santo de falar sobre Maria, a mãe de Jesus, a mãe da Igreja, a mãe de
todos nós.
Eu
gostaria de falar sobre ela, a influência delas sobre a vida de Jesus, a vida
da Igreja e sobre a vida de cada um de nós. Nós sabemos a primeira função de
Maria é ser mãe e intercessora, e na bíblia nós vemos isso muito claramente.
(os nomes bíblicos indicam as funções de cada pessoa, não são simples nomes)
O
evangelho de São João, de certa maneira, começa com as festas das bodas de
Canaã, se nós considerarmos o capítulo 1 como se fosse a introdução do
evangelho, sendo que o mesmo termina com o capítulo 19, com a crucificação de
Jesus e com Maria aos pés da cruz. E se nós pensarmos nos capítulos 20-21 como
um apêndice, com Jesus após a ressurreição, então o evangelho de São João pode
ser pensado como o evangelho da divindade de Jesus, você vai poder ver nas
entrelinhas esse evangelho como sendo o evangelho da pessoa humana de Jesus.
Por isso São João quis imprimir com tanta força o primeiro sinal de Jesus como
nosso Salvador, e esse sinal, que foi o milagre em Canaã, foi pensado
pelo evangelista como sendo o principal sinal da Igreja de Jesus. Então, na
leitura do capítulo 2, nós percebemos que Jesus estava presente, como se se
dissesse que sem Jesus não haveria Igreja, não haveria festa de
matrimônio. Obviamente os apóstolos estavam lá, porque sem o corpo místico de
Jesus não haveria igreja, não haveria festa.
Mas, ao
mesmo tempo, o evangelista salienta que Maria estava lá, tendo Maria, nessa
ocasião, agido como aquela que intercedeu, intercedeu junto a Jesus. Mas, como o
documento a respeito da devoção a Maria nos diz, por muito tempo nós estivemos
vendo Maria apenas como a intercessora, e é mais importante que enxerguemos
Nossa Senhora como mãe, alguém que nós possamos imitar e seguir, porque Maria
foi um modelo para Jesus nos seus anos de infância. Portanto, nós também que
somos irmãos e irmãs de Jesus, devemos ter Maria como nosso modelo.
Maria
como modelo:
Portanto,
de que maneira Maria pode ser nosso modelo? Quando lemos as escrituras,
percebemos três características de Maria, como funções que Maria teve na vida
de Jesus (o nome Jesus traz consigo a função de Libertar, de Salvar, de Curar)
e, portanto, na vida da Igreja e na vida de cada um de nós.
Maria, a
Mulher da Palavra.
Em
primeiro lugar, Maria é a mulher da palavra de Deus. Quando lemos o evangelho,
logo vemos muitos exemplos de Maria como sendo a mulher a palavra de Deus.
Durante os três anos do ministério de Jesus, vemos dois momentos em que Maria é
mencionada como a mulher da palavra:
Uma foi
no evangelho de São Lucas, no capítulo 11, onde nós vimos que depois de Jesus
falar tão lindamente sobre a oração, assim como sobre o trabalho do Espírito
Santo e do espírito do mal, nos versículos 27-28, nós vemos como uma mulher
começou a louvar Jesus dizendo: "Abençoada seja a mulher que lhe deu a
nascer, abençoada aquela que o sustentou", como se dissesse como "foi
bem aventurada e a mulher que foi a sua mãe". Mas o que é que Jesus disse?
Em resposta ele diz o oposto: "Abençoados são aqueles que ouvem a palavra
de Deus e as guardam no seu coração", então, se nós colocássemos, se trouxéssemos
essas palavras para a modernidade, era como se Jesus estivesse dizendo:
"Bem aventurado sou eu, por ter tido uma mãe como aquela, porque foi por
ela que eu aprendi, em primeiro lugar, a palavra de Deus". Então Jesus
honra Maria não pelo fato de ela ter sido na mulher bem aventurada como tendo
sendo sua mãe, mas como se fosse ele o bem aventurado por ter tido o Maria como
mãe, como instrutora.
(aplausos)
E no
evangelho de hoje, o lindo evangelho de Deus, sendo comparada a palavra com a
semente, e nossos corações tendo sido comparados ao terreno onde são lançadas
as palavras, se nós fôssemos ver o que vem depois desse evangelho, vamos ver um
fato onde alguns vieram para Jesus dizendo: "A sua mãe espera por
você". Talvez eles julgassem estar fazendo um favor para Jesus dizendo
isso para ele, mas o que é que Jesus fez? Ele continuou aonde estava, com os
discípulos, não foi se encontrar com a sua mãe.
E Jesus
aproveitou aquela ocasião para dizer uma coisa importante aos seus discípulos:
"Quem é a minha mãe? Quem são os meus irmãos? Quem são as minhas irmãs?
Todos aqueles que, assim como a minha mãe, ouvem a minha palavra e permitem que
essa palavra seja efetiva".
Quando
Jesus contou a parábola da semente e do semeador ele terminou a explicação
dizendo exatamente isso: que aquele solo que multiplicou os frutos da semente
por 100 é o coração naquela boa pessoa que permite que a palavra de Deus dê
frutos de maneira generosa, multiplicado-a por 100. Jesus estava, naquela
ocasião, dizendo a seus discípulos que eles estavam sendo capacitados para que
eles imitassem sua mãe e tivessem suas vidas inteiras baseadas na palavra de
Deus.
E na
festa de Canaã, o que Maria disse a aqueles que representavam os auxiliares da
Igreja que ali estavam? "O que Jesus disser a vocês para fazerem,
façam", como se ela estivesse dizendo que a coisa mais importante das
nossas vidas é a palavra que Jesus pronunciou.
Quando
Maria visitou sua prima o que Isabel disse logo que a viu? "Bem aventurada
és tu, porque é a mãe do meu Senhor", mas três versículos depois é como
Isabel se corrigisse dizendo: "Maria, você é mais abençoada porque ouviu a
palavra de Deus e nela acreditou". E no mistério da encarnação, no
evangelho de São Lucas, o que Maria disse ao anjo Gabriel? "Seja feita de mim
de acordo com a palavra", ou seja, Maria baseou toda a sua vida na palavra
de Deus.
É como
se Deus buscasse em Maria aquela pessoa que baseasse toda a sua vida na palavra
de Deus, para que assim Maria pudesse ser convidada para ser a mãe de Jesus.
É com
frequência que nós lemos, nas narrativas de São Lucas sobre a infância de
Jesus, que Maria não entendia a palavra de Deus. Isso ocorre quatro vezes no
evangelho, mas em cada momento percebemos que Maria guardava a palavra de Deus
dentro de seu coração, pensava sobre a palavra, meditava sobre ela, e permitia
que essa palavra trouxesse frutos na sua vida.
Santo
Agostinho disse de uma forma tão bonita que antes mesmo que Maria concebesse
Jesus em seu ventre, ela o concebeu em sua mente e em seu coração.
Então
não é possível entender uma pessoa que diz ser devota de Nossa Senhora e não
tem devoção e amor à palavra de Deus. Se ela ama Maria, ela vai ler e meditar a
palavra de Deus todos os dias, baseando, cada um de nós, as nossas vidas na
palavra de Deus, seguindo o exemplo de Maria.
Maria, a
Mulher do Espírito.
A
segunda função de Maria era ser a mulher do Espírito, ou para explicar melhor,
uma mulher de oração.
Já no
início nós temos os anjos dizendo para Maria que o espírito de Deus viria sobre
ela, onde ela conceberia Jesus pelo poder do Espírito Santo. Então Maria se
preparou para esse momento durante toda a sua vida através de intensa oração.
Novamente, quando Maria entrou na casa de Isabel, o que Isabel disse?
"Maria, no momento em que você entrou na minha casa com Jesus em seu
ventre, o bebê que eu carrego em meu ventre pulou de alegria", e a bíblia
diz que naquele momento João Batista foi batizado que ficou cheio do Espírito
Santo, mesmo antes de seu nascimento.
A
presença de Maria traz para cada pessoa a presença do Espírito Santo, com quem
ela se encontra. Isabel foi preenchida pelo Espírito Santo no momento em que
ela ouviu a saudação de Maria. Zacarias foi preenchido pelo Espírito Santo que
ele então me louvou ao Senhor com um lindo hino 'Benedictus', sendo mais tarde
Ana e Simeão também preenchidos pelo Espírito Santo. Em nenhum lugar da bíblia
iremos encontrar menção a uma pessoa mais frequentemente ligada ao Espírito
Santo como neste capítulo.
Então eu
não posso entender como uma pessoa pode dizer que é devota de Maria, se ela não
se abre totalmente para a unção do Espírito Santo, o que significa estar
aberto ao Espírito Santo através de uma vida de intensa oração, porque ele
somente vem para a nossa vida para a oração.
No Ato
dos Apóstolos novamente vemos o nome de Maria sendo mencionado no versículo 14,
quando os apóstolos e aquelas mulheres estavam juntos na mesma sala esperando e
orando pela vinda do Espírito Santo, esperando por um novo Pentecostes em suas
vidas, onde se diz: "Maria estava lá". É como se a bíblia estivesse
dizendo que sem a presença de Maria o Espírito Santo não viria a aquela sala, e
eu acredito que Maria estava lá motivado os apóstolos a continuarem em oração.
Nós
sabemos que todas as vezes que Jesus levou os seus apóstolos a oração, naquele
momento de glória no Monte Tabor ou na agonia nos jardins do Getsemani, os
apóstolos dormiram. Mas agora, nessa sala, eles não estavam dormindo, eu tenho
certeza que Maria estava lá mantendo-os acordados em oração, Maria os liderava
na oração.
Eu tenho
certeza que durante aqueles nove dias foi Maria quem conduziu o primeiro
seminário de vida no Espírito Santo, o primeiro retiro carismático.
(aplausos)
Então eu
não entendo como um pentecostal não dá importância a Maria, ainda mais tendo
ela enfatizado tanto o sagrado trabalho do Espírito Santo. Da mesma maneira, eu
não posso compreender como católicos podemos dizer que temos devoção a Maria,
quando nossa vida de oração estás tão deixada de lado, nos lembrando do Espírito
Santo tão somente no domingo de Pentecostes.
Então,
seguindo o exemplo de Maria, nós devemos ser pessoas do Espírito e de oração.
Maria, a
Mulher da Cruz.
A
terceira missão de Maria foi ser a mulher da cruz, a mulher do sofrimento, a
mulher da nossa redenção.
Quando
lemos a palavra no evangelho em todos os momentos importantes da vida de Jesus
Maria veio a sofrer. É como você Jesus chamasse Maria para ser a mulher para
carregar sobre si mesma o sofrimento próprio da mulher. E nas próprias palavras
de São Paulo é como se Maria estivesse completando algo que pudesse estar
faltando no sofrimento de Jesus.
Maria
passou por cada sofrimento próprio e específico de mulher.
Por
exemplo, quando ela engravidou pelo poder do Espírito Santo, vimos São José
ficar repleto de dúvidas em seu coração, dispensando Maria em sua vida
particular. Um dos grandes sofrimentos da mulher é receber sobre si a suspeita
do marido que ela ama e por quem ela é amada, e eu não sei por quanto tempo
Deus permitiu que marido e mulher sofressem essa torturante dor.
E qual é
um dos grandes sofrimentos que as mães passam? É não saber se o filho está vivo
ou morto, quando ele desaparece, se ele foi roubado ou raptado. Caso o filho
esteja morto, não há nada o que se possa fazer. Mas, supondo que o filho tenha
sido raptado ou roubado, quando uma mãe não sabe se o filho está vivo ou morto,
ou se o filho se perdeu e ela não sabe aonde ele está, há grande sofrimento das
mães. Maria teve esse grande sofrimento quando Jesus se perdeu no templo.
Padre
Rufus quando era criança se perde dos pais.
Quando
eu era menino minha família foi para um grande festival e eu me perdi. Eu me
lembro que eu não conseguia encontrar os meus pais e comecei a chorar.
Finalmente a minha mãe me encontrou e pude ver em seus olhos suas lágrimas de
sofrimento, quando ela me encontrou logo me deu um tapa. (risos) Mas foi um
tapa de alegria, ela estava feliz por ter me encontrado vivo. É por isso que
nós temos a história de Jesus ter se perdido no templo.
Se
tivéssemos tempo nós poderíamos abordar cada sofrimento de Maria como mulher e
mãe.
Por
exemplo, o sofrimento de uma mãe refugiada, quando Maria e José tiveram que
partir para um país estrangeiro levando Jesus, quando o rei Herodes estava
perseguindo o menino Jesus para matá-lo.
E nós
sabemos que muitas pessoas sofrem grandemente quando estão em um país sob o
julgo de um ditador, como em Ruanda ou no Timor Leste. Quando eu estava em Fátima
havia uma jovem que estava nos falando sobre o Timor Leste, ela era uma
refugiada de lá. Ela nos disse que há 25 anos atrás, em 1975, quando a
Indonésia ocupou o lado português do Timor, seu pai foi assassinado, seu irmão
foi assassinado, um dos irmãos desapareceu e então ela dizia: "Padre, eu
estou voltando para o Timor para buscar por ele, procurá-lo, após 25 anos.
Minha mãe pensa que ele está vivo".
Então,
finalmente, nós lemos no último capítulo, o capítulo 19, ali, aos pés da cruz,
Maria, a mãe de Jesus. É como se o João quisesse nos dizer que a glória da vida
de Maria era estar aos pés da cruz. É como se o apogeu da vida de Maria fosse o
sofrimento de estar aos pés da cruz oferecendo seu filho para a salvação,
portanto essa é a mulher da cruz.
E se
você quer ser discípulo de Jesus, você tem que ser o homem e a mulher da cruz,
sabendo que depois da sexta-feira santa há sempre um domingo de páscoa, que
após a crucificação há sempre a ressurreição.
Meus
queridos irmãos e irmãs, como eu tenho feito durante todos esses dias, eu
gostaria de lhes contar uma história para falar sobre Nossa Senhora.
Caso: a
Freira que Odiava sua Congregação.
Há
muitos anos atrás uma freira veio me pedir aconselhamento. E é isso que ela me
disse:
- Padre,
eu estava muito doente e a minha congregação recebeu uma notícia de que meu pai
estava muito doente. Minha família mandou um telegrama para a madre superiora,
pedindo que me avisassem que meu pai estava doente.
Infelizmente
a madre superiora esqueceu-se de repassar o telegrama para ela. Outro telegrama
foi mandado pela família um dia depois para informá-la que seu pai havia
falecido. Quando a freira viu que o primeiro telegrama não lhe havia sido
entregue informando que o seu pai estava doente, ela ficou cheia de dor e de
mágoa com relação a madre superiora de contra toda a congregação. Ela amava
muito seu pai.
Ela foi
ao funeral, porém ela chegou atrasada, o sepultamento já havia ocorrido. Sua
raiva, sua amargura aumentou ainda mais. Ela amava o seu pai e gostaria de ter
estado no leito de morte dele e agora ela não pôde nem estar presente ao
funeral dele para ver o seu corpo.
De
qualquer maneira ela tinha boa vontade, porque ela veio fazer o retiro. Como eu
poderia ajudá-la a superar essa tragédia em sua vida? Nós sabemos que a palavra
de Deus tem resposta para cada problema, e eu mencionei a ela aquele fato do
evangelho, quando os discípulos queriam seguir Jesus e que aquele candidato a
discípulo disse: "Eu quero segui-lo, mas primeiro deixe-me participar do
enterro de meu pai. Primeiro deixe-me ir ao funeral do meu pai". Isso
porque para os judeus a solenidade de enterrar o pai era um ato religioso muito
importante, e o que Jesus disse? Na escritura que está: "Deixe que os
mortos enterrem seus mortos".
É como
se Jesus estivesse dizendo a esse discípulo o seguinte: "Bem, se você
quiser vá ao funeral do seu pai, mas não venha a ser meu seguidor, você não vai
poder ser meu discípulo". Jesus era duro com as pessoas que queriam
segui-lo. "Se você quiser me seguir, saiba o quanto vai custar isso para
você".
Então,
eu disse a essa irmã:
- Jesus
está testando você para saber quem é mais importante para a sua vida, quem é o
senhor da sua vida. O senhor da sua vida é o corpo sem vida de seu pai? Ou é o
Jesus vivo? Você está sendo testada na fé.
Somente
então ela compreendeu, se arrependeu, perdoou e começou a louvar a Deus até
mesmo pelo que estava acontecendo.
(aplausos)
As
Perdas Pessoais do Padre Rufus.
Cada vez
que eu penso nessa história fico pensando o que eu faria um momento desses.
Há uns
20 anos atrás meu pai ficou muito doente. Eu celebrei uma missa por ele em casa
e no dia seguinte eu fui para um encontro da Renovação Carismática no sul da
Índia conduzir um grande retiro. Eu disse ao meu pai:
-
Papai, talvez, quando eu voltar, o senhor não esteja mais aqui conosco. Mas eu
sei que nós vamos nos encontrar no céu.
E quando
eu parti para o sul da Índia, no primeiro dia da convenção, eu recebi a notícia
de que meu pai havia acabado de falecer e não haveria tempo de eu chegar ao
funeral.
E algum
tempo depois a minha tia acabou ficando muito doente. Nessa ocasião eu estava
em Jerusalém e cheguei a Bombaim depois do funeral.
Sete
anos depois minha mãe ficou doente e eu tive que levá-la aos médicos, tendo
cancelado alguns compromissos na Europa, mas, um dia tive que ir à Europa
porque não houve formas de cancelar um dos encontros. Nessa ocasião eu
perguntei aos médicos:
- Será
que eu posso ir para a Europa? Ou não? O que vocês acham, a minha mãe vai estar
viva quando eu voltar? Ou não?
- Nas
condições atuais, tudo pode acontecer. Ela pode vir a falecer amanhã ou pode
ainda permanecer alguns meses, é imprevisível - disseram os médicos.
E foi
uma decisão muito difícil para mim, mas finalmente eu tive que ir.
No dia 4
de julho, aniversário da consagração de nosso lar ao Sagrado Coração de Jesus,
celebrei uma missa para a minha mãe em casa. A minha mãe tinha uma devoção
muito grande ao Sagrado Coração de Jesus e essa devoção era o fundamento da
nossa fé cristã familiar.
Depois
da missa eu tive que dizer para ela que eu teria que ir à Europa. Eu me lembro
com frequência do que ela me disse:
- Rufus,
você sai tão frequentemente, mas eu gostaria que quando eu partisse você
estivesse comigo.
E ela
costumava dizer isso para mim com frequência, mas agora eu tinha que dizer para
ela que eu estaria indo, e isso foi muito difícil para mim dizer isso, e
finalmente disse:
- Mamãe,
eu tenho que ir para a Europa.
-
Quando? - ela perguntou.
- Esta
noite.
- Oh,
meu Deus, hoje à noite? E quando você vai voltar?
- Acho
que em duas semanas.
- Mas
depois de dois meses?! - ela havia entendido dois meses.
- Não,
depois de duas semanas.
E eu não
pude ficar para ver as lágrimas nos seus olhos. Só beijei suas mãos e peguei um
táxi para o aeroporto. Enquanto eu estava indo para o aeroporto sentia
impetuoso de voltar para casa. Finalmente cheguei a Londres para conduzir um
encontro na escola e, enquanto eu estava no retiro, eu pedia a Deus:
-
Senhor, não deixe que a minha mãe morrer enquanto eu não voltar!
No
último dia do encontro que estava pregando para as pessoas sobre o capítulo 19
de São João. Eu cheguei a aquele ponto da escritura onde Jesus disse:
"Maria, eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe". Então recebi um
telefonema dizendo que a minha mãe estava muito, muito ruim, ela estava me
chamando. Então eu pensei: "Eu tenho que voltar a Bombaim". Fiz os
arranjos todos para poder voltar para a Índia, orando constantemente:
"Senhor
Jesus, eu nunca pedi nenhum favor em toda a minha vida, mas agora eu estou te
pedindo esse favor, por favor, mantenha minha mãe viva até eu chegar, porque
não haveria alegria maior para um padre do que estar ao leito de morte da sua
mãe, e porque não haveria maior alegria para ela do que o seu filho padre estar
em seu leito de morte".
Então eu
me lembrei que a minha mãe frequentemente ficava me esperando para que eu fosse
visitá-la. Quando eu chegava lá as pessoas me diziam que a minha mãe estava me
esperando, então eu ia visitar a minha mãe. E, depois de cinco minutos de
visita, ela mesma dizia:
- Você
tem que ir, você tem um trabalho a fazer.
Eu me
lembrei daquele momento em que seu rosto se enchia de um sorriso quando me via
chegando. Aí eu dizia: "Senhor, minha mãe não tem outro objetivo senão
esperar a minha chegada".
Então
veio outro telefonema dizendo que a minha mãe havia entrado numa estado de
coma, em coma as suas mãos faziam um movimento como se estivesse rezando o
rosário.
(aplausos)
E ela me
dizia frequentemente:
- Rufus,
desde que eu fiquei velha, tudo o que eu posso fazer é rezar o rosário. Rezo na
cozinha, no banheiro, no quarto... - o dia inteiro ela passava rezando.
E até
mesmo em coma, como ela obteve esse hábito, ela estava rezando o rosário!
Finalmente
veio a notícia de que minha mãe tinha morrido, então eu me chateei com Deus. Eu
disse: "Senhor, eu pedi apenas um favor, minha mãe pediu somente um favor,
que ela estivesse comigo em seu leito de morte", então o Senhor começou a
falar comigo com as palavras da bíblia e eu me lembrei do que Jesus disse aos
apóstolos:
"Se
alguém ama o seu pai, a sua mãe, o seu irmão ou a sua irmã mais do que a mim,
não é digno de mim".
Então eu
percebi que Deus estava pedindo de mim e da minha mãe um último sacrifício, o
sacrifício da escolha de não estar presente no leito de morte de minha mãe.
Então o meu coração foi se enchendo de paz.
Cheguei
em Bombaim, fui para casa, pude ver o corpo de minha mãe no caixão. Enquanto eu
olhava para ela pude perceber uma grande paz nela. Então eu me lembrei que
todos dias, quando nós rezávamos o rosário em família, quando eu era criança,
terminávamos o rosário com três jaculatórias:
"Jesus, Maria e José, assistam-me na minha agonia. Jesus, Maria e José, que eu possa ter o meu último suspiro na sua abençoada companhia".
Então
Jesus estava me dizendo: "Rufus, não havia necessidade nenhuma de você
estar presente quando a sua mãe morreu, porque eu estava lá, José estava lá,
Maria estava lá".
(aplausos)
Mamãe é
Apenas um Ser Humano.
Ela
estava mesmo acompanhada daquelas abençoadas santidades. Então, quando eu
olhava para seu corpo, repentinamente veio a mim que todos aqueles anos finais
de sua vida foram gastos em oração. E muito dessa oração era para mim e para o
meu ministério. E eu percebi que ela também era um ser humano, era uma mulher.
E ela
perguntava para mim:
- Rufus,
como eu estou?
E eu
olhava para sua face cheia de alegria, com um sorriso já sem dentes, seu cabelo
já caindo, e eu olhava para ela num retrato de família e lá eu a via como uma
jovem bonita, com um pequeno Rufus, de 5 anos, próximo dela, e eu falava para
ela:
- Mãe,
você está tão bonita como naquela fotografia.
Então eu
percebi que ela era um ser humano. O Senhor a usou para um lindo trabalho: eu
me lembro que ela passava a maior parte do tempo rezando o rosário. E então com
surpresa eu percebi que a razão pela qual o Senhor tem abençoado tanto este meu
ministério, a razão pela qual o Senhor tem me levado a tantos países, de ter me
abençoado de ter este ministério, de rezar, de curar e de libertar, não é um
mérito meu, mas sinto que há uma mulher por trás de mim, a mãe que me criou,
que passou toda sua vida rezando por mim.
(aplausos)
Conclusão.
Então,
Maria não é somente uma intercessora.
Maria
não é um modelo de como se deve ouvir Deus.
Maria
não é um modelo de como se deixar encher pelo Espírito Santo.
Maria
não é um modelo de quem está disposto a carregar uma cruz.
Mas, nas
palavras dos documentos de devoção a Maria, ela é alguém presente, é um sinal,
é a presença de Jesus no mundo. Ela é quem nos lembra dia após dia que somente
seu filho aqui pode ser nosso Salvador e nosso Libertador, é aquela que está
suspirando em nossos ouvidos a todo tempo: "O que o meu filho mandar
fazer, faça". Amém.
(aplausos)